sábado, 3 de janeiro de 2015

O TOMARA-QUE-CAIA DA DEBORAH SECCO

.



Há muitos anos não assisto televisão. Com exceção dos jogos da Copa do Mundo ou em alguma situação de absoluta anormalidade, meu aparelho serve tão somente para ver filmes, plugado no computador ou em vídeo por streaming.

Assim, tirando a falecida Copa, devo sem nenhum exagero, ter ligado minha tv em algum canal aberto (naturalmente, não tenho cabo) umas 8 vezes nos últimos 4 anos. Nesse esquema, já estão incluídos os debates para as eleições presidenciais e para as municipais de 2012.

Existe já no imaginário popular, que televisão é lixo. Mesmo assim, as casas continuam deixando ligados seus aparelhos, as vezes, mais de um em cada residência, em cômodos distintos, assistindo todos ao mesmo canal. Antes se emburrecia coletivamente, todos na sala à mesa do jantar, vendo o famigerado Cid Moreira nos dizer o que era certo e o que era errado. Aparelho de tv era um negócio caro para se ter mais de um em casa. Hoje somos doutrinados individualmente, cada um em um quarto.

A justificativa que eu mais escuto para a insistência em lhes dar audiência é, "televisão não tem nada de bom, mas vou assistir o quê?"

Naturalmente para o cidadão comum, que tantas vezes muito se assemelha ao bovino puxador de arado, a hipótese de "não assistir nada", não existe. 

É uma pena que tenhamos chegado a esse nível de fraqueza mental. 

Prova do que se converteu essa máquina de acéfalos é que numa eventual penhora de bens, os juízes não deixam levar as televisões por ser um aparelho considerado de primeira necessidade. Pra mim, isso é um absurdo.

Hoje em dia no entanto, vemos a audiência televisiva diminuindo e dando lugar para a internet. A rede já tem mais visualizadores do que a tv tradicional. Antes de ficarmos atônitos com essa boa notícia é necessário ponderar os dados. A foto acima, que é o print screen do UOL de 3 de janeiro mostra bem que não há tantos motivos assim, para comemorar. O instinto da subserviência e a preguiça de pensar ainda imperam nas sociedades mundo afora. Infelizmente, não é exclusividade brasileira deixar o encargo de conduzir o nosso saber, a terceiros. Isso é coisa do humano em geral cujo cérebro, na maioria das vezes, nunca chega a ser tirado do plástico durante toda a vida de seu possuidor. Fica lá, fechadinho e preservado para a eternidade, sem sofrer bombardeios mil que o façam raciocinar. O indivíduo padrão, se abastece do conhecimento fornecido somente por um cordão umbilical. Esse cordão costumeiramente entrega poucas variedades de nutrientes. Os mais comuns em terras brasileiras são kits de sobrevivência contendo Doses cavalares de Jornal Nacional, Novelas, Caldeirão do Huck e Faustão. Uma maravilha para quem quer deixar o cérebro intacto para todo o sempre, aguardando talvez, algum futuro estudo que aponte de maneira indelével, como era possível no século 20 e 21, passar a vida toda sem produzir grandes dilemas mentais, questionamentos ou quebrar paradigmas.

Num almoço de família dia desses, fui confrontado por uma amiga antiga de minha mãe. Ela fez as tradicionais observações sobre a corrupção na Petrobrás e eu disse que ela, apesar de estar correta, estava defasada, pois sabia apenas um lado da história. Notadamente a informação de que o PSDB fora o partido que mais recebeu verbas das propinas. Ela, sem nenhuma surpresa minha, falou que não tinha visto essa notícia, apesar de assistir ao "jornal" todo dia. Ora, ela não viu porque a Globo não falou. A Veja não deu e a Folha escondeu. Assim, como ela infelizmente faz parte da grande massa que puxa o arado, nenhuma informação de relevância lhe será destinada. Especialmente pra ela, que assiste a todas as novelas e todos os jornais até a hora de dormir. Em outras palavras, se não deu  na Globo, não existe.

Mas se você está lendo mais este desabafo, é porque provavelmente já sabe disso e possivelmente, não concorda com a forma que as coisas são. Mesmo assim, fique sabendo que a culpa de termos essa imprensa ridícula e medíocre, também é sua. É nossa, aliás.

O que devemos fazer? Se não dá pra mudar a cabeça dos mais velhos, é muito importante ao menos, tentarmos educar nossas crianças. Não somente a diminuir a quantidade de televisão, mas também, como elas provavelmente estarão mais ligadas à internet, ensiná-las a filtrar e questionar o que acessam na rede.

Uma notícia da Deborah Secco arrumando o tomara-que-caia é muito mais do que uma não notícia. É uma afronta, uma zombaria ao ser humano. Os veículos que propagam esse tipo de estupidez, capitaneados por editores (jornalistas) descerebrados, só podem estar rindo do público, enquanto tomam seu cafezinho no corredor.

"E aí, eu estampei a foto da Deborah ajeitando a roupa e coloquei isso na primeira página!". Seguramente depois desta esta frase, seriam ouvidas diversas gargalhadas. Ao final do último gole, o genuíno espertalhão que ganha a vida dessa forma sofrível, volta para sua baia e continua a garimpar inutilidades para jogar ao público. É triste, mas é o sistema. Ele faz porque precisa do salário. Mas e audiência assiste por qual motivo?

É fato concreto que enquanto não modificarmos a forma passiva de nos ligarmos aos canais informativos, nada de substancial acontecerá neste planeta moribundo. Continuaremos repetindo o que George Orwell escreveu em "1984". Nada somos, que valha a pena o investimento.

O investimento "nosso", que fique bem dito, pois o "deles", na nossa burrice, sempre foi levado muito a sério.

Se o W. Bonner continuar a ser a única fonte "confiável" de informação e se tolerarmos que a internet siga o mesmo caminho despropositado, mereceremos nosso destino.

A estupidez é sim, nossa culpa. Convença os mais velhos, instigue aos seus pares, ensine as crianças.

Clique aqui para saber o que Katia Abreu e a URSS têm a nos ensinar.
Clique aqui para ver que a CBN tem amnésia.
Clique aqui para ver que Boechat também tem amnésia.
.
.

Um comentário:

insequapavel disse...

"Nulidade de nulidades: tudo é nulidade!", diria Salomão, se vivesse neste século. Dante Alighieri, em seu "Inferno" (primeira das três partes da Divina Comédia), descreveu o Poço dos Bajuladores como o setor do Inferno em que as almas ficavam eternamente atoladas na matéria mais podre do Universo, apenas com o nariz de fora: o excremento humano. Para ele, os bajuladores eram a escória das escórias, para a qual não havia definição possível, entre todos os tipos de definição para as piores atividades possíveis de ser executadas pelas pessoas, pois os bajuladores são um misto de inúteis, sanguessugas, mentirosos, aproveitadores, covardes e traidores. Quando comecei na Faculdade de Comunicação Social, e me inteirei da "ética" dos jornalistas modernos, passei a imaginar que tipo de Poço seria descrito por Dante, se ele vivesse nos dias de hoje, e conhecesse os jornalistas modernos, servos do Time-Life e associados. George Orwell ("1984")e Ray Bradbury ("Farenheight") imaginaram uma Humanidade oprimida por um super-ditador, que controlava os comportamentos e até os pensamentos humanos. Mas a atual realidade é muito pior que a prevista por aqueles grandes escritores. Os governos absolutos imaginados por ambos tinham por objetivo controlar a Humanidade, para sua própria segurança. Mas os modernos ditadores, os donos da chamada mídia, tentam descontrolar a Humanidade, para a insegurança dela, visando apenas o lucro. Insistem em tirar a paz e a tranquilidade de todos, mantendo as sociedades sempre inquietas, temerosas, nervosas, capazes de cometer os maiores desatinos, cegas para as virtudes, e incapazes de atos solidários. Isso tem um propósito: pessoas nervosas, inquietas e revoltadas tendem a cometer os maiores crimes. E é a violência que alimenta as empresas de Comunicação de Massa. Quanto mais revolta, quanto mais crimes, quanto mais tragédias acontecerem, mais audiência terão seus noticiários, mais tiragens terão seus jornais e revistas. Mais tiragens, justificam menor Custo-por-Mil. E o Custo-por-Mil é a isca usada pelos veículos, para pescarem anunciantes. pois é a verba da Publicidade que dá lucro aos veículos. Escândalos e notícias trágicas geram muito, mas muito dinheiro mesmo, para aqueles veículos, que não têm o menor compromisso com a Humanidade. Nem mesmo com os próprios jornalistas e âncoras, que, avida e imbecilmente veiculam com orgulho suas mentiras e notícias tendenciosas, percebem que, quando envelhecerem e forem substituídos por outros âncoras mais jovens, ficarão sem prestígio, sem emprego e no ostracismo, e os mesmos patrões a quem hoje defendem servilmente, sacrificando a própria honra, os abandonarão friamente.